sábado, 22 de maio de 2010

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Relatório da residência 1 do Colaboratório 2010

Relatório Colaboratório – residência 1. A acolhida de chegada em Teresina foi muito eficiente. Lanchamos confortavelmente no Núcleo do Dirceu e partimos para Luís Correia, já trocando idéias e nos conhecendo. A duração de três semanas foi um tempo inicial satisfatório para um primeiro contato e o tempo foi bem aproveitado em todas as atividades. Na primeira semana senti certa falta de uma abordagem mais ‘prática’, ou seja, proposições físicas de trabalho. No entanto, acredito que isso ficou a cargo de cada um dos participantes, que tiveram que criar suas próprias estratégias para lidar com essa questão, mesmo que individualmente; o que consequentemente culminou em ‘vivências’ e outras atividades propostas aos colegas. As acomodações do Sesc praia eram muito confortáveis (quartos, sala de reuniões, piscina, restaurante, etc), porém, com relação aos espaços de trabalho demoramos a ‘descobrir’ o Centro de Convenções (palco?), e mesmo assim, o acesso a este local era limitado a três vezes por semana, das 8h às 14h. Proponho que para futuros ‘Colaboratórios’ este espaço seja liberado para utilização todos os dias, durante toda a jornada de trabalho. Essa foi uma ‘dificuldade’ onde mais uma vez, exercitamos o bom senso e a criatividade para a resolução dos problemas. Os parceiros de trabalho estavam todos completamente envolvidos e dispostos às experimentações, empáticos com o ponto de vista dos outros, abertos às indagações. Percebi que ninguém se anulou, ou mesmo o contrário com relação às críticas, ou questionamento dos colegas. Particularmente no ‘grupo’ à qual sinto estar inserida (Divas assassinadas) todos tivemos muita maturidade para colocar pontos de vista, questionar procedimentos de trabalhos, dividir desejos estéticos e teóricos, enfim ‘discutir a relação’ referente ao projeto que nascia ali. Primeira semana: Christine iniciou as conversas associando ‘grupos’ de assuntos, divididos em eixos temáticos, considerando pontos comuns de questionamento dos artistas: Comunicação; Percepção e consciência; Imagem. Tivemos a oportunidade de conhecer os trabalhos uns dos outros, e os motivos que incitaram cada integrante a participar do Colaboratório. Continuamente Christine nos apresentou bibliografias de acordo com os assuntos levantados, destacando similaridades e relações entre os eixos temáticos. Falamos sobre pele e metáforas, a ação na percepção; as categorias fenomenológicas de Pierce; estados corporais; ‘presença’; processual e experimental; conhecer o outro e a empatia; diluição num ambiente, substância e imagem; dança e performance; relação de gênero – masculino/feminino (Cleide); identidade; alteridade; coerência entre teoria e prática-discurso (Gimena); o corpo mídia – aquele que faz, age; diferenças materiais de corpos (Juliana); conceito de ‘Lugarização’; Utopia, entre outros. Todos observamos que os eixos temáticos se entrecruzarem todo tempo, com isso, as subjetividades e as relatividades foram cada vez mais consideradas ampliando as possibilidades de abordagem de cada assunto. Graciosamente Chris é mais que qualificada (uma caixa de Pandora) Generosa para nos dar o máximo de informação das mais variadas fontes sobre nossos pontos de interrogação. Minha síntese em três palavras para este ‘Encontro’ é: objetividade, conscientização e clareza. Segunda semana: Jorge chegou ‘provocando’ o ‘escancarar’ das singularidades e revelando os agrupamentos – síntese – ‘Quem está ‘fetichizando’ quem? Com muita doçura nos encaminhou ao interior uns dos outros. Sempre atento e questionador nos impeliu a pensar sobre as várias possibilidades de afinidade na elaboração de idéias e como ‘oficialmente’ começar os procedimentos de pesquisa. Foi quando propôs o SPA – Seminário de pesquisa em andamento. Todos eram responsáveis pela organização do dia e sobre quais assuntos queríamos falar. Performatividade foi grande foco de investigação, muitas bibliografias foram apresentadas. O movimento ‘corporal’ passou a fazer parte de nosso cotidiano, onde pudemos literalmente misturar as idéias, palavras e corpos de forma que nos fez sentir o ‘cheiro’ um do outro. Foi um encontro muito intenso onde aprofundamos a experiência da intimidade, tentativa de equilíbrio, assertividade e conexão entre os universos intelectual e sensorial. Terceira semana: Marcelo Evelin chegou para promover a ‘discórdia’ (no bom sentido), todas as aparentes ‘clarezas’ que tínhamos sobre com quem iríamos trabalhar, ou mesmo sobre ‘o que’ e ‘como’, relativas aos projetos deu vazão a um delicioso caos reestruturador. Começamos a nos arranjar e criar um cronograma próprio de trabalho dos grupos, no entanto sem excluir a possibilidade de infiltração em outros grupos. Conversamos muito sobre o ato colaborativo e como isso poderia se dar. Foram levantados pontos como: funções de cada indivíduo dentro do processo colaborativo, possibilidade de projetos solos e também a existência não só de projetos de pequenos grupos, mas a consideração de um ato total de todos os colaboradores. A práxis deu continuidade aos processos criativos. Nossas ‘apresentações’ no palco foram desvendando o trabalho, tanto expondo fragilidades da proposta, quanto potencialidades. Os trabalhos começaram a indicar possíveis direções. Em todos os encontros com Marcelo exercitamos a crítica, o desapego, a criatividade e objetividade na exposição dos fatos. Finalizamos a residência - 1 avaliando tudo o que foi vivenciado no período e tentando projetar estratégias futuras para a sobrevivência das colaborações. Acredito que outros assuntos ‘aconteceram’ na festa final... a qual infelizmente não pude participar...e perdi o jantar da Paty B. Outras considerações: Os locais estavam sempre limpos e os funcionários do local eram muito amáveis. Todas as negociações com a produção, tais como, por exemplo: almoço em local alternativo - sempre foram conversadas de forma gentil e solucionadas tranquilamente.

Cris Oliveira

Belo Horizonte, 28 de maio de 2010.

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Cris Oliveira

Cris Oliveira tem formação no ballet clássico, dança contemporânea. É graduada em Artes Cênicas, pós-graduada em Gestão Cultural e possui formação na área de pesquisa e composição coreográfica pelo programa ‘Transforme – Perceptions’ (2009-2010) em estudos realizados na Fondation Royaumont - Paris. Foi integrante da Cia. de Dança Palácio das Artes (2001-2009), onde atuou em obras de vários coreógrafos e como criadora-intérprete a partir do método BPI (Bailarino-pesquisador-intérprete), criado por Graziela Rodrigues. Em 2005 recebeu o prêmio SIMPARC de melhor bailarina de Minas Gerais, por sua atuação em “Coreografia de Cordel”. Desde 2006 desenvolve trabalhos independentes e em parceria com outros profissionais, assumindo uma prática interdisciplinar no campo das artes, apresentando suas obras em diversas regiões do Brasil e no exterior.

Participou das residências Colaboratório (2010) no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro; “Interferencias” México (2010), ZAT 8 – ‘Hallucinatory body’, com Lynda Gaudreau, no Fid 2011 e Interferencias (2121) – Impulstanz Festival, Viena (Áustria).

Realizou curadoria parcial para o evento ‘1,2 na dança’– edição 2011, na indicação de solos de artistas internacionais. Publicou o artigo: Tecnologia da pele – arte, experimentação, interdisciplinaridade e a dança (Revista Prosa!-março/2012). É representante do projeto Interferências no Brasil para a Edição do encontro no país para 2013 e colaboradora do Interferencia’s book, apresentado no Impulstanz Viena (Áustria), Devir CAPA (Portugal) e Centro de las artes de San Luís Potosí (México).

Estudou com: Ana Mondini, Cizco Aznar (Suíça/Espanha), Holly Cavrell (EUA), Foofwa d’Imobilité (Studio 44, Genéve), Julie Bougard (menagèrie de verre – Paris), Damien Jalet ( La Rafinerie - Bruxelas), Krosro Adib (Irã/Bélgica), Jean Marie Huppert-Eutonia, Richard Shuterman (EUA) – método Feldenkrais,; Maria Thaís (máscara neutra); Fernando Liñares (Teatro Antropológico); Fernanda Lippi (Teatro Físico), Luiz Abreu (Dramaturgia e Direção); Dominique Brun (Esforço/forma em Laban); Claire Roussier (pensar o solo) e Myriam Gourfink(yôga). Atualmente programadora de dança no Sesc Palladium, Belo Horizonte/MG.

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